Saiba como o cuidado com a saúde mental e o autoconhecimento podem fazer a diferença para uma boa liderança
Já dizia o filósofo grego Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”. Conseguir identificar desejos, emoções, sentimentos e vulnerabilidades é uma habilidade fundamental, mas que nem todos desenvolveram como deveriam. Apesar de sua importância, o autoconhecimento segue sendo um desafio para muitas pessoas.
No trabalho, a aplicabilidade dessa competência ajuda a tornar o ambiente corporativo mais saudável, o que proporciona ganhos em produtividade e resultados. Diante disso, o autoconhecimento se torna uma ferramenta essencial, especialmente para os líderes.
Os profissionais que assumem um cargo de liderança têm entre suas atribuições diferentes responsabilidades técnicas, mas também o dever de promover a colaboração e a motivação, além de auxiliar no processo de desenvolvimento de suas equipes. Mas para isso, o primeiro passo é se autoconhecer e entender quais aspectos pessoais precisam ser aperfeiçoados.
No entanto, com as demandas do dia a dia e as urgências de um mercado de trabalho cada vez mais desafiador, essa não é uma tarefa fácil.
Algumas linhas de pensamento defendem que estaríamos caminhando para a “era dos negócios psicológicos”.
Esse não é um conceito amplamente conhecido e estabelecido, mas basicamente é uma terminologia que está começando a ser utilizada para designar uma abordagem empresarial que valoriza e considera os aspectos psicológicos e emocionais dos indivíduos dentro de uma organização.
Isso engloba diferentes questões, como saúde mental e bem-estar; inteligência emocional; engajamento e satisfação; cultura organizacional e valores; e desenvolvimento contínuo.
O motivo para investir na busca por autoconhecimento é simples, mas extremamente relevante: ter consciência sobre quem somos, como pensamos, o que sentimos e por que agimos como agimos impacta diferentes aspectos da nossa vida pessoal e profissional.
Quer entender um pouco mais sobre como funciona esse processo de autoconhecimento e a importância dessa habilidade para um líder? Leia o artigo na íntegra e fique por dentro do assunto.
Um erro que as pessoas costumam cometer quando buscam desenvolver seu autoconhecimento é buscar truques, atalhos ou fórmulas prontas. No entanto, investir em autoconhecimento é um processo contínuo, complexo e profundo, que requer, sobretudo, disciplina e comprometimento.
É quase que abstrato. Não à toa, é comum pensar: mas o que de fato é o autoconhecimento e como alcançar esse entendimento pleno sobre si mesmo?
Em tese, o autoconhecimento pode ser definido como uma profunda autocompreensão, considerando valores, crenças, emoções, padrões de pensamento e comportamentos. No entanto, a busca por esse nível de consciência sobre si mesmo não tem necessariamente um fim, uma vez que as pessoas estão em constante evolução.
Diferentes vivências podem influenciar nossas ações e maneiras de pensar ao longo da vida. Por isso, a importância de voltar a essas análises internas e buscar constantemente entender quem somos e como percebemos o mundo ao redor.
Todo esse conceito se relaciona, ainda, com um outro elemento muito importante: a inteligência emocional. Ou seja, nossa capacidade de entender e lidar não só com nossos próprios sentimentos, mas com o dos outros.
A inteligência emocional ajuda a impulsionar o autoconhecimento porque estimula as pessoas não só a se conhecerem, mas saberem lidar com diferentes emoções, entender os outros à volta e gerir relacionamentos.
Alessandra Demito, diretora da Elevè Gestão com Pessoas, doutora em Psicologia, pesquisadora em saúde mental e trabalho e diretora de saúde e trabalho da ABRH, é uma das entrevistadas da segunda temporada do Talk SOAP.
Durante a conversa com Renata Catto, apresentadora da edição e diretora de Negócios da SOAP, a especialista aborda questões relacionadas à importância do autoconhecimento para um líder.
Alessandra pontua que, em qualquer relação, a segurança psicológica desempenha um papel importante, mas quando olhamos para o contexto empresarial isso tende a ser negligenciado.
A especialista cita como uma boa referência para quem quer aprofundar seus estudos sobre a questão o livro “A coragem de ser imperfeito”, de Bene Brown, que aborda especificamente a vulnerabilidade como um importante elemento de conexão entre as pessoas.
No mundo corporativo, as diferenças entre homens e mulheres tendem a ser ainda mais evidenciadas, pela ideia antiga e engessada de que os homens precisam ser a todo o tempo fortes, perfeitos e destituídos de emoção para transmitir competência e credibilidade.
Ao mesmo passo que se atribui e à mulher o estereótipo de “fraca”, justamente por elas demonstrarem mais suas emoções.
“Quando você enfrenta algo difícil na sua vida você pode encarar de duas formas: em um polo você tem a arrogância — eu sempre sou muito bom, eu dou conta, eu sou incrível — e do outro de humildade — deu algo errado, o que dá para aprender com isso? Dependendo da maneira como você enfrenta as adversidades, com humildade ou arrogância, isso faz toda diferença na sua saúde mental e na relação que você estabelece com as pessoas”, destaca Alessandra.
A doutora em Psicologia também explica que da mesma maneira que existe uma dimensão física, existe uma psicológica (saúde mental) que tende a ser negligenciada. No entanto, é importante que cada pessoa tenha um olhar atento a essa questão e entenda como essa dimensão pode afetar a vida dela.
“Muitas vezes vemos pessoas que têm um desenvolvimento emocional muito baixo e focam no desenvolvimento intelectual e profissional como se quisessem esconder, disfarçar isso. Mas o que faz a diferença hoje nas relações nas empresas, seja entre pares ou com clientes, é o desenvolvimento emocional.”
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Para desenvolver o autoconhecimento, muitas pessoas recorrem à análise ou terapia. E de fato essas são ferramentas importantes para quem está buscando se conhecer mais. Existem também outros exercícios que podem ser implementados no dia a dia de quem busca ter mais consciência sobre si mesmo.
Um deles é observar como suas ações influenciam sua energia e motivação. Por exemplo, em quais momentos do dia você se sente com mais energia? Quais atividades você realiza que te dão mais prazer? Isso te ajuda a ampliar seu senso de autoeficácia e te dá mais condições para se organizar melhor em relação aos seus dias e suas atividades.
Outro jeito de estimular seu autoconhecimento é experimentando coisas novas, aprendendo algo diferente e se expondo a experiências não vivenciadas antes. Essa é uma forma de saber novas coisas sobre si mesmo e descobrir novas paixões.
Também é interessante conversar com pessoas próximas e entender como elas te enxergam entre suas melhores e piores características.
Nessa conversa, é interessante pedir exemplos de situações que ajudem a ilustrar esses comportamentos e até mesmo uma opinião sobre como agir melhor nessas situações. Esse é um exercício que deve ser feito com cautela, pois o intuito não é gerar conflito, mas identificar pontos de melhoria.
No ambiente corporativo, algumas ações podem estimular que os colaboradores também busquem por seu autoconhecimento. Um exemplo é implementar uma cultura de feedback contínuo.
Outra dica é permitir que as pessoas se sintam confortáveis em demonstrar suas emoções e vulnerabilidades sem serem julgadas por isso. Além de contribuir para que desenvolvam seu autoconhecimento, a prática é fundamental para que todos criem conexões mais verdadeiras e duradouras.
Mudar essa perspectiva, especialmente em empresas onde não há essas práticas estabelecidas, é um desafio. No entanto, aos poucos é possível sair do automático e adotar diferentes comportamentos que vão estimular o time a promover mudanças em seu próprio modo de agir, e consequentemente na forma como se relacionam.
Um ponto de partida importante é pensar em como suas ações impactam e influenciam os outros ao redor e qual é o tipo de influência que você deseja exercer. Será que você se conhece o suficiente ao ponto de se sentir seguro para ajudar os outros?
Ter esse questionamento no radar nos ajuda a perceber nossas vulnerabilidades, e também nossos pontos fortes, para a partir daí termos condições de fazer uma leitura mais assertiva sobre o ambiente e as pessoas ao redor.
Alessandra Demito é a sexta convidada da segunda edição do Talk SOAP, podcast sobre comunicação e liderança da SOAP Brasil. Além das questões já citadas ao longo do artigo, a especialista apresentou durante a conversa outros insights importantes sobre saúde mental, vulnerabilidade e autoconhecimento.
A nova temporada do Talk SOAP traz outros seis episódios com especialistas em diversos assuntos, como criatividade, desenvolvimento profissional, diversidade, liderança humanizada, entre outros.
Confira a lista de convidados:
Ouça ao episódio completo sobre criatividade no Spotify:
Ou, se preferir, assista ao episódio no Youtube da SOAP: