Genesson Honorato, consultor de inovação e diversidade, conta o que está por trás de uma organização verdadeiramente inclusiva
A promoção da diversidade e inclusão nas empresas é um tema relevante, mas ainda negligenciado ou aplicado de forma equivocada. Muitos gestores pensam nessa pauta como uma simples meta numérica a ser cumprida e deixam de lado todas as camadas que envolvem uma verdadeira inclusão no ambiente corporativo.
Mais do que números, é importante compreender que a conexão com pessoas diferentes é o que nos permite obter novas visões, insights e ideias que impulsionam a inovação e o crescimento.
É essa mensagem que Genesson Honorato, head de inovação de Recursos Humanos, LinkedIn Creator, palestrante e consultor de inovação e diversidade, deixa no terceiro episódio do podcast Talk SOAP.
“O maior poder que você pode adquirir não está no cargo que você ocupa, no dinheiro que ganha, no carro que dirige ou no lugar onde mora. O maior poder é o encontro que você faz com as pessoas e que, se for de maneira genuína, pode ser muito transformador e potente.”
A conexão com pessoas de origens diversas nos permite explorar diferentes experiências de vida, bagagens culturais e formas de pensar. Por isso, ao abraçar a diversidade, as empresas têm a oportunidade de expandir seus horizontes, alcançar um melhor desempenho e impulsionar a inovação.
Em um ambiente de trabalho, a conexão com colegas de diferentes origens e perspectivas é crucial, embora muitas pessoas tendam a imaginar que quanto mais impessoalidade, melhor. Acontece que é por meio dela que podemos obter novos insights e soluções criativas, mas também estabelecer relações mais confiáveis e saudáveis.
E é por isso que promover diversidade e inclusão nas empresas não se trata apenas de contratar pessoas de diferentes origens e identidades. É necessário promover uma cultura que valorize essas diferenças, na qual os indivíduos sejam capazes de se conectarem com seus diferentes.
Ao se conectar de maneira autêntica com colegas diversos, podemos estabelecer relacionamentos de confiança e compreensão mútua. Isso cria um ambiente propício para o compartilhamento de ideias e o trabalho em equipe eficaz.
A conexão humana vai além de benefícios individuais. Quando nos conectamos com pessoas diferentes, estamos contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária, para que todos possam prosperar e alcançar seu pleno potencial.
De fato, a diversidade está na pauta de discussões em muitas empresas, provavelmente mais do que em qualquer outro momento da história da humanidade. No entanto, nem sempre essa diversidade é realmente colocada em prática no dia a dia, ou pelo menos não de forma adequada.
Genesson Honorato ressalta que é preciso ir além de contratar pessoas de diferentes raças, gêneros, idades, poder aquisitivo, etc. É necessário observar onde essas pessoas estão de fato posicionadas. “No comitê executivo, por exemplo, tem quantas dessas pessoas?”, ele provoca.
Promover a diversidade requer algo a mais do que discurso e estatísticas. É fundamental garantir que as pessoas diversas tenham oportunidades reais de ascensão e de participação nas decisões estratégicas das empresas.
Afinal, é isso que permitirá que elas contribuam com seus diferentes pontos de vista. Muitas vezes, as organizações afirmam ser diversas, citando porcentagens ou números, mas não refletem essa diversidade em seus cargos de liderança e tomada de decisão.
O especialista ainda destaca como, ao longo dos últimos anos, a palavra “diversidade” tem sido utilizada em diferentes contextos, e isso pode levar a um uso inadequado e à perda de seu sentido prático.
É essencial que gestores compreendam a verdadeira essência da diversidade: abrir espaço para que diferentes pontos de vista contribuam e, mais ainda, entender que há problemas sociais que são maiores que a empresa que afastam essas pessoas.
Não se limitem a usar a palavra como uma mera declaração de intenções. A diversidade não deve ser apenas um slogan vazio ou uma tendência da moda, mas sim uma abordagem genuína e substancial para a construção de um ambiente inclusivo.
Para promover a diversidade de forma efetiva, é necessário investigar onde essas pessoas estão posicionadas dentro da empresa, se têm oportunidades de crescimento, se estão representadas em cargos de liderança e se têm sua voz ouvida.
Não existe resposta fácil. Poderíamos listar aqui uma série de políticas assertivas que certamente fazem parte do processo, mas essa é uma discussão que precisa ir além.
Compreender o que, de fato, significa incluir as pessoas é um primeiro passo, mas a partir disso os desafios apenas aumentam.
Outro ponto inicial: quando se trata de promover a diversidade e a inclusão nas empresas, é fundamental abordar não apenas os efeitos da falta de diversidade, mas também as causas subjacentes.
Em sua participação no Talk SOAP, Genesson Honorato levanta uma questão importante ao afirmar que muitas vezes estamos discutindo apenas os efeitos, sem realmente abordar as verdadeiras causas das desigualdades presentes nas organizações.
Ao lidar apenas com os efeitos, corremos o risco de tratar os sintomas sem enfrentar a raiz do problema. Para promover uma mudança efetiva, é necessário identificar e abordar as causas que contribuem para a falta de diversidade, “e elas precisam ser tratadas de maneiras específicas”, conforme explica Genesson.
As causas podem ser diversas e complexas, envolvendo questões estruturais, preconceitos inconscientes, falta de oportunidades e barreiras institucionais.
A partir disso, cabe realizar uma análise aprofundada das dinâmicas organizacionais, das políticas de contratação, dos processos de promoção e da cultura corporativa para identificar quais fatores estão contribuindo para a falta de diversidade.
Uma abordagem efetiva requer um compromisso genuíno em enfrentar essas causas específicas e implementar medidas que as abordem de forma direta. Isso pode envolver a criação de políticas de recrutamento mais inclusivas e afirmativas, mas deve se estender aos programas de desenvolvimento profissional e ações internas para combater preconceitos, por exemplo.
Além disso, é essencial reconhecer que a mudança real requer uma abordagem intencional. Honorato coloca a pergunta: “estamos preparados? Ou não estamos intencionais?”
Intencionalidade, aqui, é a intenção, deliberação e o propósito para começar uma mudança institucional e cultural.
Promover a diversidade e a inclusão nas empresas também passa por adotar um mindset cultural organizacional adequado.
O mindset organizacional refere-se à mentalidade coletiva e aos valores compartilhados dentro de uma empresa. É a forma como as pessoas percebem e abordam a diversidade, bem como a maneira como as políticas, práticas e processos são moldados em conformidade.
Honorato ressalta que estamos falando de uma mudança cultural: “A organização é uma célula social dentro de uma grande célula social” e a forma como ela existe e se comporta tem um impacto significativo dentro e fora dessa bolha.
Isso requer uma abordagem holística que envolva a conscientização, a educação e a mudança de atitudes e comportamentos. Isso pode ajudar a combater preconceitos, estereótipos e discriminação, criando um ambiente mais inclusivo.
Além disso, a liderança desempenha um papel fundamental na promoção de um mindset cultural organizacional voltado para a diversidade.
Os líderes devem servir como modelos de comportamento, demonstrando o valor da diversidade em suas ações e decisões. Eles devem criar um ambiente seguro e aberto, onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas.
Um mercado competitivo e cada vez mais exigente em relação à pauta diversidade traz aspectos positivos no sentido de pressionar as empresas para que adotem mais políticas afirmativas.
Mas um ponto de atenção é que acabou-se criando uma cultura excessivamente mercadológica em cima de uma questão que é civilizatória, na visão de Honorato.
Promover a diversidade e a inclusão nas empresas não deve ser encarado como uma competição para saber quem é mais diverso. Não se trata de uma ação de Marketing.
É verdade que quando algumas empresas fazem movimentos mais “barulhentos” em relação à diversidade e inclusão, podem gerar uma grande repercussão e inspirar outras organizações a seguirem o exemplo.
“Mas por outro lado, a gente precisa quebrar essa competição – e já há movimentos fazendo isso. Precisamos juntar organizações em prol de algo que é maior, que é civilizatório. Quando fazemos isso, começamos a ver também os efeitos dentro da nossa organização.”
Genesson Honorato
Genesson Honorato é o convidado do terceiro episódio do podcast Talk SOAP, no qual ele fala sobre diversidade, inovação e suas histórias inspiradoras para quem deseja aprender mais sobre o tema.
Nesta segunda temporada, o Talk SOAP reúne sete figuras que movimentam o mercado corporativo com ideias diferentes, que fazem provocações construtivas e que conduzem à transformação.
Veja a lista de convidados:
O terceiro episódio já está disponível no Spotify! Ouça:
Ou, se preferir, assista ao episódio no Youtube da SOAP: