Dado Schneider e a incrível palestra MUDA

A SOAP, ao longo de mais de 17 anos, consolidou uma regra importante no mercado: não utilize trilhas sonoras em apresentações.

Treinamento SOAP
12/07/2016
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A SOAP, ao longo de mais de 17 anos, consolidou uma regra importante no mercado: não utilize trilhas sonoras em apresentações. Além de distrair a audiência, a letra da música compete com o apresentador e o que deveria ser algo diferente, acaba sendo um tiro no pé. Porém, Dado Schneider quebrou sabiamente esse paradigma na Campus Party BR 7.

Nos cerca dos 30 primeiros minutos de apresentação, ele substituiu a própria voz por uma trilha sonora, o que incrivelmente potencializou a mensagem.

“Ok, mas e o conteúdo?”, você pode se perguntar. Para abordar o conteúdo, ele recorreu a outro recurso. Os slides se transformaram em cartazes, com frases curtas, como em um filme mudo.

Não à toa, o renomado publicitário intitulou a palestra de “O Marketing Digital Muda. A Publicidade Muda. A Palestra Muda”.

“Mas se o conteúdo estava nos slides, qual a função da trilha? E ele ficou passando slides? Como tudo isso se conecta?”. Bem, antes de assistir à íntegra da palestra, ocorrida em 28 de janeiro de 2014, acompanhe, neste artigo, alguns trechos reveladores sobre como foi realizada essa ousada apresentação. Vamos lá?!

O silêncio que diz muito

Abaixo, você pode assistir ao vídeo da palestra na íntegra, porém, de modo a não perder o foco deste texto, peço que veja até o minuto 23. Isso porque o conteúdo é tão interessante que você ficará mais de uma hora na frente do computador e não seguirá adiante para ver a análise desse brilhante discurso.

Dado é conhecido por ideias inovadoras. Para se apresentar para uma audiência tão exigente como a da Campus Party em sua maioria, jovens ligados em tecnologia e cultura pop, ele não poderia fazer menos. Manter a atenção do público é um dos maiores desafios de quem está lá na frente.

Acomodadas em suas cadeiras, as pessoas precisam despender energia para manter o foco e a capacidade de abstração e, assim, acompanhar o raciocínio do apresentador. “Como qualquer primeira impressão, os primeiros minutos são o gatilho da empatia ou do desinteresse imediato da audiência”, já nos avisa o livro “Super Apresentações: Como Vender Ideias e Conquistar Audiências”.

Com esse desafio em mente, Dado Schneider inovou e criou uma apresentação muda, sem sequer uma palavra em sua primeira parte. A olhos rasos pode parecer apenas mais uma “gracinha”, ou forma de ser “cool”, mas não é tão simples assim.

Essa estratégia de apresentar ao público uma forma diferenciada de se comunicar gerou interesse em quem assistia. O objetivo fica explícito no minuto 2:49, em que aparece a seguinte tela:

Palestra Muda Dado Schneider

O público deve ter feito várias perguntas mentalmente, como:

  • “Que raios de apresentação é essa em que o apresentador não fala?”;
  • “Que mensagem ele passará?”;
  • “Por que ele está fazendo isso?”.

Foi uma sacada simples e eficaz para despertar o interesse e fazer com que as pessoas de fato focassem na apresentação. Afinal, se elas não lessem o arquivo, não participariam realmente da palestra.

Além disso, a apresentação não teria a metade da adesão se não fosse outro aspecto utilizado com sabedoria: a trilha sonora.

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Trilha sonora para criar conexão emocional

A escolha das músicas não foi apenas segundo o gosto musical dele. É possível notar três fatores que o levaram àquela playlist:

1. O publicitário utilizou músicas com nomes casados com o tema do bloco que elas iniciavam.

2. Foi razoavelmente eclético para agradar boa parte da audiência, como ele mesmo apontou.

3. Por último e, talvez, mais importante: utilizou a melodia de cada música para fazer a conexão emocional da plateia com o tema. Guiou o humor, ânimo e clima pela audição.

Por exemplo, para falar do meio insano que estamos vivendo, em um mundo de cobranças e pessoas “sem noção”, como ele mesmo cita, utilizou um heavy metal: “Roots Bloody Roots”, do Sepultura. Quem nunca disse quando tem muito trabalho:

  • “Estou trabalhando demais!”;
  • “Tá pesado!”;
  • “Tá hard”;
  • “Tá heavy!”.

E, acompanhado da expressão, fez o famoso gesto:

Por falar nisso, não podemos deixar de analisar outro aspecto decisivo na performance de Dado Schneider: ele como apresentador.

Performance de Dado Schneider como apresentador

Comunicação não verbal

No início da sua palestra, quando a plateia ainda estava pequena, o passador de slides falhou, o que obrigou o professor do MBA da ESPM/RS a combinar um sinal com a mesa de modo que os slides fossem passados. Esse improviso rendeu à apresentação muda uma força, para não dizer expressividade, que não era planejada.

Dado encaixava o sinal de um soco no ar com maestria. Ao socar o ar, aproveitava para enfatizar os pontos importantes. Era praticamente possível ouvir Dado Schneider destacando o que queria.

Além de constantemente interagir com a audiência, pedindo que levantassem a mão, fizessem o “curtir”, entre outros, o professor interpretava o que as pessoas estavam lendo. Uma ótima forma de quebrar uma possível monotonia.

O PowerPoint

Como publicitário, era de se esperar que Dado Schneider fizesse uma apresentação que se destacasse pelo design, mas não foi o caso. O que vimos na tela foi o essencial e nada mais. O texto apareceu, de propósito, em pouca quantidade. Se fosse em grande quantidade, ele perderia o foco das pessoas em segundos.

Imagine só: uma palestra MUDA e com um monte de texto. Uma tortura e desrespeito ao tempo das pessoas que estavam lá. Outra diferença é que o texto dos slides não era apenas gancho, e sim o que ele gostaria de falar literalmente. Não era texto, era fala, como em uma conversa.

Design

Quanto ao design, por mais que tenha sido simples, também temos o que falar. O objetivo ali não era fazer uma apresentação que deslumbrasse os olhos das pessoas, com efeitos diferenciados e imagens bem trabalhadas.

O objetivo era simplesmente passar conhecimento, ou melhor, compartilhá-lo. Isso não quer dizer que ele não tenha tido cuidado ao montar o arquivo. Você reparou que ele intercalou fundo preto com fundo branco em TODOS os slides?

Pois bem, esse cuidado foi tomado também para quebrar a monotonia. Os olhos não descansavam por se acostumarem ao fundo, trabalharam constantemente até o final da apresentação. Após 23 minutos de silêncio, Dado Schneider partiu para a segunda parte da sua apresentação, o que também podemos chamar de Ato II.

O Ato I, no qual ele expôs os desafios do cenário, foi concluído com tanto êxito que, ao final, ele ganhou um grande “YEAH” de toda a plateia. Daí em diante, Dado sustentou os fatos relatados a partir da sua experiência de vida e, em seguida, partiu para a conclusão da apresentação.

Por mais que tenha caracterizado sua apresentação como “desmotivadora”, ele estimulou, com sabedoria, muitos jovens a aceitar e entender que tais transformações em nossa sociedade podem ser positivas, dependendo do quanto e como você as explora.

Quem é Dado Schneider?

O gaúcho Dado Schneider é graduado em Comunicação e pós-graduado em Marketing pela UFRS, e mestre e doutor em Comunicação pela PUC/RS.

Ele trabalhou em grandes agências de publicidade do país, como Ogilvy, MPM e DM9, em seus primeiros 20 anos de carreira. Dado é criador da marca Claro (empresa de telefonia), em que foi executivo de marketing, além de consultor de comunicação de importantes empresas nacionais e multinacionais.

Ele lecionou em algumas universidades, inclusive na que ele se formou, e foi convidado pelo reitor da Universidade Fernando Pessoa, em Porto, Portugal, para dar aulas na instituição após ter feito uma palestra no local.

Desde 2008, ele vem se tornando um dos palestrantes mais procurados do Brasil. Suas palestras são reflexo de seu pensamento dinâmico e criativo, como mostrado na apresentação que descrevemos, em que ele não fala uma palavra e usa uma linguagem inovadora para conquistar a atenção do público.

Em suas apresentações, sua boa comunicação e versatilidade com todos os tipos de públicos são suas marcas registradas. O professor visa mostrar para as Gerações X e Y o grande grau de digitalização que a Geração Z tem desde o nascimento e como todos estão ficando desatualizados em relação a eles.

O site BuzzFeed considerou Dado Schneider como “um dos palestrantes imperdíveis da Campus Party”, da qual se tornou embaixador.

Livro de Dado Schneider

Em 2013, ele lançou seu primeiro livro, “O Mundo Mudou… Bem na Minha Vez!”, uma obra com linguagem atual e inovadora, escrito em formato de tweets, podendo ser lido separadamente (em tópicos) ou como um texto único.

No livro, o autor desafia os padrões e traz ideias novas sobre:

  • relacionamentos pessoais e profissionais;
  • etiqueta no trabalho;
  • conflitos e diferenças entre gerações;
  • relações entre empresas e consumidores.

Além disso, aborda estratégias de marketing e venda, liderança, motivação e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Outras palestras conhecidas de Dado Schneider

Temas de suas palestras

  • Quem não se comunica se complica;
  • Tirando o mofo do marketing;
  • A era do ficar;
  • Reaprendendo a trabalhar;
  • Amálgama;
  • A moderna liderança por adesão;
  • Vendas no século XXI: mudar ou morrer;
  • Atitude inovadora e inovação ao alcance de todos;
  • Competição desenfreada;
  • Paradoxos: mudanças comportamentais que nos confundem;
  • A palestra muda;
  • Digiriatria — seremos todos velhos digitais.

A palestra mais famosa de Dado Schneider é, como já falamos, “O Mundo Muda. A Palestra Muda”, criada por ele para tentar manter os alunos focados na aula quando ele atuava como professor.

Dado Schneider reparou que, ao adicionar frases consecutivas com uma linguagem coloquial e músicas de sucesso em um volume alto, o público prestava mais atenção na apresentação. “Como pude comprovar, o que fica nas mentes no dia seguinte é muito mais do que uma simples exposição tradicional, seja aula ou palestra”, afirma Dado.

Confira suas outras palestras:

  • Vontade de Mudar;
  • Vontade de Liderar;
  • Vontade de Fazer;
  • Vontade de Vender;
  • Vontade de Motivar;
  • Vontade de Atender;
  • Vontade de Cooperar.

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