A linguagem corporal pode mudar a forma como você se conecta com sua audiência e o resultado das suas apresentações
A data da palestra que você apresentará está próxima. Os slides estão prontos. O discurso também já está memorizado. Todo esse preparo vai garantir o sucesso da apresentação, certo? Não.
Além de um discurso com conteúdo e slides bonitos, a linguagem corporal tem papel fundamental para cativar a atenção da plateia e dar credibilidade ao que você diz.
Ray Birdwhistell, um antropólogo americano pioneiro nos estudos da linguagem corporal, afirmou, na década de 80, que “apenas 35% do significado social de qualquer interação corresponde às palavras pronunciadas, pois o homem é um ser multissensorial que, de vez em quando, verbaliza”. Os outros 65% ficam por conta de gestos, olhares e demais recursos silenciosos.
Segundo a psicologia, a linguagem corporal interfere significativamente na aprovação do público. Ela pode ajudar ou atrapalhar na transmissão de credibilidade e profissionalismo. Mas antes de entender como você pode usar a linguagem corporal a seu favor, é preciso conhecer um pouco mais sobre o assunto.
Linguagem corporal é tudo o que seu corpo usa para se comunicar, como complemento (ou não) à fala. Ela envolve os trejeitos, expressões, gestos, tom de voz e assim por diante. Cruzar os braços durante uma discussão ou fechar o semblante diante de uma pergunta invasiva são alguns exemplos.
Saber fazer uma leitura da linguagem corporal pode ser importante até mesmo para aprimorar argumentos e mudar os direcionamentos de um diálogo. Nas vendas, por exemplo, é uma excelente maneira de entender o nível de interesse de um potencial cliente.
Isso porque a linguagem corporal se apresenta de forma consciente ou inconsciente. Você pode claramente se posicionar com seu corpo ou, em alguns casos, ele é capaz de denunciar seus pensamentos. Esses sinais podem ser sutis ou bastante evidentes, a depender do cenário.
“Os comportamentos/sinais que emitimos através da nossa voz, do nosso corpo, da expressão do nosso rosto, isso chega no interlocutor, na audiência, no público e são exatamente esses sinais que vão fazer com que ela [a audiência] faça um julgamento”, pontuou Carol Martins, Diretora de Operações e instrutora da SOAP durante uma live.
A linguagem corporal é uma ferramenta para sua postura e imagem profissional. Por isso, conhecer como ela se expressa, o que evitar e como usá-la a seu favor é essencial para quem deseja se apresentar com alta performance em diferentes ocasiões.
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Muitos se perguntam o que é expressão corporal e qual a diferença para a linguagem corporal. Pense que a primeira é apenas uma parte da segunda.
A expressão corporal está atrelada a uma manifestação corporal de sentimentos ou sensações internas. Já a linguagem corporal é mais ampla.
Em muitas publicações, os termos são tratados como sinônimos, mas em linhas gerais, as expressões são particularidades da linguagem corporal, enquanto esta segunda pode se manifestar de outras formas.
De uma maneira geral, a linguagem corporal em momentos decisivos pode ser dividida em três pilares: postura, gesticulação e expressão facial. Combinados, esses componentes contribuem muito para que você alcance melhores resultados em suas apresentações — sejam elas palestras para grandes públicos ou reuniões com seu chefe e colegas de trabalho.
De acordo com a especialista Carol Martins, as primeiras partes do corpo às quais devemos atentar são as nossas pernas.
É absolutamente normal ficar nervoso quando se está sob os holofotes, e uma das reações mais comuns é movimentar-se excessivamente pelo espaço, andando de um lado para o outro ou fazendo movimentos pendulares com o tronco.
“Quando iniciar a apresentação, não fique se mexendo de maneira inconsciente, isso demonstra estresse e dificulta que a audiência acompanhe seus movimentos”, afirma.
Quando você colocar os pés no palco, adote uma postura neutra na linguagem corporal: pernas paralelas, ombros paralelos ao corpo e cabeça paralela ao chão, tomando cuidado para não ficar assimétrico (por exemplo, quando se apoia em uma das pernas, o que dará certo ar de desleixo à postura).
Porém, conforme a apresentação avança, você não só pode, como deve se movimentar. Mas, claro, de maneira consciente: quando quiser se conectar com as pessoas do lado direito, caminhe até lá e permaneça um tempo parado. Alguns minutos. O mesmo vale para quando desejar dedicar maior atenção ao centro ou ao lado esquerdo do público.
Outra situação bastante comum é o apresentador adotar uma postura encolhida, curvando levemente as costas, mantendo a cabeça baixa e as mãos sobre a barriga. E, curiosamente, há uma explicação biológica para isso: quando nos sentimos ameaçados, tentamos, involuntariamente, proteger a região abdominal — onde estão nossos órgãos vitais.
Como essa região fica muito exposta nos palcos, o instinto protetor do palestrante pode falar mais alto. “Isso pode passar uma imagem de insegurança e desconforto à plateia. Por isso, para demonstrar autoconfiança, é recomendado manter os ombros e a cabeça alinhados ao corpo e ao chão, respectivamente”, sugere Carol Martins.
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Nós somos seres que gesticulam. Desde pequenos, ao mesmo tempo que aprendemos a falar, somos estimulados a fazer gestos com as mãos. David McNeill, psicólogo americano especialista na relação da linguagem com os pensamentos e os gestos, diz que ações corporais transmitem um sentimento ou uma ideia, e ocorrem simultaneamente ao gesto vocal.
Paul Ekman, outro psicólogo americano, pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais, defende que as gesticulações são manipuladas pela palavra e pelas ideias, sendo reproduções do pensamento.
Os gestos servem para ilustrar ou enfatizar o que está sendo dito, e são muito bem-vindos em apresentações. “Eles quebram a monotonia e ajudam a dar dinamismo para a fala do apresentador. Além disso, por voz e gesto estarem enfatizando as mesmas coisas, contribuem para dar veracidade à mensagem”, explica Carol.
Coloque-se na posição do ouvinte: você não acharia entediante assistir a uma palestra de duas horas sem movimentação? Apostamos que sim. Então, não tenha medo de gesticular.
No entanto, assim como existem as incongruências da postura, há também aquelas relacionadas à movimentação das mãos. São os chamados movimentos manipulatórios, como o vício de mexer no cabelo ou coçar o nariz, que apenas externam a tensão do palestrante. São gestos que não reforçam nem ilustram a mensagem, apenas demonstram o nervosismo do apresentador, passando uma impressão de pouco profissionalismo e preparo aos ouvintes.
“Devemos lembrar que gestos são diferentes de movimentos. Estes são repetitivos e sem sentido no contexto do discurso. Já os gestos são naturais e estão ligados à sua fala”, afirma.
A expressão facial durante a apresentação é um dos aspectos mais importantes na transmissão de emoção para a audiência. Suas feições devem combinar com o discurso. Você não pode falar que sua equipe não atingiu a meta com um sorriso de orelha a orelha. Nem falar algo feliz com cara de choro.
Você deve demonstrar em sua fala a emoção que está vivenciando. Ao mesmo tempo, a expressão facial tem papel fundamental na narrativa de uma história e, assim como posturas e gestos, é indispensável para dar credibilidade ao que está sendo dito.
É essencial ter uma expressão facial convidativa. Se você estiver com uma cara séria, as chances de gerar empatia com a audiência são mínimas”, explica a especialista.
Portanto, coloque em sua mente que deve mostrar às pessoas que está alegre por estar ali. Assim, elas se sentem mais dispostas a te ouvir, e é mais fácil gerar conexão emocional.
“Desvendando os segredos da linguagem corporal”, livro de Allan e Barbara Pease, já vendeu mais de 25 mil cópias e tem muito a ensinar sobre o tema. É um convite a ter relações saudáveis com outras pessoas a partir desse conhecimento. Da obra, podemos tirar diversas lições a respeito de como nosso corpo se expressa.
Para potencializar o desenvolvimento pessoal, vamos falar sobre como a linguagem corporal pode ser usada a nosso favor na carreira. Vimos algumas dicas no tópico anterior, mas vale o complemento!
Pense no seguinte cenário: você quer fazer uma apresentação eficiente para um público com o qual nunca teve contato antes. Em vez de preparar diálogos genéricos ou que já funcionaram em outras ocasiões, estude o cenário previamente. Descubra o que desperta interesse dessa audiência, quais são as suas dores e assim por diante.
Durante a apresentação, vale medir o nível de interesse das pessoas na plateia e ter jogo de cintura para captar essa atenção. Se muitos estão bocejando ou desviando o olhar, antecipe-se aos primeiros sinais e tenha truques preparados para que seu discurso se torne atrativo.
Outro cenário pode acontecer com você involuntariamente. Ao notar certo incômodo da audiência, verifique se esse sentimento não está sendo causado pela sua linguagem corporal — às vezes, na sede por ter um argumento aceito ou na defesa de alguma tese, é comum gesticular demais, de maneira agitada.
Por falar nessa prática involuntária da linguagem corporal, vale reforçar que as pessoas com maior autoconhecimento conseguem controlar melhor essa questão. Elas compreendem as situações em que se exaltam, em que ficam entediadas, se animam demais ou se irritam, entre outros. Logo, podem trabalhar as emoções para que o corpo expresse menos possível.
Do contrário, elas também sabem o momento ideal para enviar sinais para outras pessoas por meio da linguagem corporal. Em outro cenário, podem evitar gestos, posturas e expressões dúbias, que a audiência não conseguiria interpretar.
Vimos que a expressão facial é uma das formas de se comunicar. Os olhos são os elementos mais emblemáticos do rosto — e podem ser usados a seu favor em diferentes situações. Eles podem demonstrar interesse, rivalidade, tédio, entre tantos outros sentimentos.
Tenha em mente que o olho no olho é capaz de criar verdadeiras conexões entre indivíduos. Em uma apresentação, por exemplo, direcionar o olhar de pessoa em pessoa pode ser a chave para conquistar a atenção da audiência. Mas faça-o moderadamente, para não causar desconforto.
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Uma comunicação não violenta é grande aliada em qualquer situação, profissional ou não. Muito disso depende do controle que você tem sobre seus gestos e da postura adotada durante diálogos ou discussões. Aqueles que transmitem sinais de irritação e intolerância devem ser evitados.
Um caminho para esse domínio é o treinamento. Pense que isso envolve os movimentos dos braços, os ombros, a mandíbula e assim por diante. Tente fazer com que esses gestos sejam complementos da sua fala e não se comuniquem por si só. Encontre o equilíbrio e pratique sempre que possível.
A forma direta de se comunicar também deve ser alvo de sua atenção. Ao longo de sua jornada, entre reuniões e apresentações, você provavelmente estudou maneiras eficientes de abordagem, de storytelling, entre tantas outras estratégias. Mas vale também ficar atento ao tom de voz.
Assim como ombros tensos e um olhar fixo de desaprovação, o tom de voz pode denunciar os seus sentimentos diante da situação. Ao correr com as palavras, atropelando-se, por exemplo, demonstra certo nervosismo diante da sua audiência e, com isso, pode perder parte da credibilidade com o que fala.
Um timbre muito elevado pode soar como agressivo, enquanto o baixo demais tem chances de não ser nem ao menos cogitado.
Se preparar emocionalmente para uma apresentação também é importante. Afinal, suas emoções vão influenciar — e muito — sua linguagem.
Esse preparo, intimamente ligado à respiração, funciona melhor quando feito a longo prazo, mas também pode ajudar se realizado momentos antes de uma apresentação. Diversas pesquisas de neurociência apontam que a respiração tem uma conexão significativa com o nosso estado emocional.
“É importante não entrar em uma apresentação sem consciência sobre seu estado emocional (triste, animado, medo, nervosismo). Se você estiver desanimado, por exemplo, faça um exercício focando mais na inspiração, para trazer energia para dentro. Já se você está em um estado muito agitado, faz um exercício focando na expiração para pôr a energia para fora. Se você fizer quatro ciclos, já pode te ajudar”, explica Carol Martins.
O recomendado é ter uma prática de exercícios de respiração diária. Além disso, exercícios de meditação ajudam nosso cérebro a viver em um estado de mais equilíbrio.
A linguagem corporal deve ser uma das prioridades para quem deseja ter sucesso em relacionamentos interpessoais e na carreira.
Seja em uma apresentação profissional, seja em momentos-chave dessa jornada rumo ao reconhecimento no mercado, invista nesta ideia para dominar situações e se posicionar bem, bem como ler as expressões de uma audiência, um grande trunfo.
No workshop a SOAP Apresentador, por exemplo, você pode aprender por meio de técnicas e exercícios práticos, como aplicar pilares estratégicos na construção de suas apresentações.
Tudo isso, junto a um bom uso da linguagem corporal vai te ajudar a se conectar melhor com sua audiência e fazer com que se interessem pelo conteúdo que deseja transmitir.
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