O filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” conquistou 165 prêmios até março de 2023, incluindo o Oscar de Melhor Filme, o mais cobiçado em Hollywood.
O filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” conquistou 165 prêmios até março de 2023, incluindo o Oscar de Melhor Filme, o mais cobiçado em Hollywood. Mas o que podemos aprender sobre como o storytelling é usado nesse longa-metragem?
Um dos motivos para o sucesso da história está na narrativa bem construída pelos roteiristas. Um fato surpreendente, visto que o longa traz como pano de fundo o multiverso, tema bastante explorado pelos filmes de super-herói, mas um tanto complexo para atingir o grande público.
Para Rodrigo Possert, consultor educacional na SOAP, o filme é fora da curva em diversos aspectos.
“Acredito que o longa ter ganhado como melhor filme, melhor roteiro e melhor direção, sendo que os diretores são os roteiristas e os roteiristas são os diretores é uma prova de que essa história além de ser original, foi bem contada”, analisou.
Possert também destacou o papel da montagem no resultado final do filme. Afinal, foi a edição extremamente dinâmica que ajudou a trazer para o público essa concepção de que muitas histórias estão acontecendo simultaneamente, como o filme propõe.
“Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” trata-se de uma obra de ficção científica que gira em torno da história de Evelyn Wang, uma chinesa de meia-idade que se mudou para os Estados Unidos com o marido buscando viver o sonho americano.
No entanto, as coisas não saem exatamente conforme o planejado. Em solo americano, Evelyn e seu marido gerenciam uma lavanderia da família, que está à beira da falência. Além disso, lidam com os dramas da adolescência da filha Joy, a primeira da família a nascer em solo americano.
Conforme já mencionado, um dos elementos importantes dessa história é o multiverso, mas não ele por si só. O conceito pseudocientífico sobre a existência de diferentes universos se mistura às reflexões quase que filosóficas sobre escolhas e as questões sociais que permeiam os personagens.
Um dos segredos dessa narrativa que engaja e desperta a curiosidade dos espectadores está, justamente, em um dos pontos fundamentais do storytelling bem-feito: a conexão com o público.
Por mais estranhas que algumas cenas possam parecer, as relações humanas estão sempre presentes, fazendo com que o público se identifique e sinta empatia pelos personagens.
“A história utiliza um elemento universal para gerar essa identificação. É universalizar pelo particular, ou seja, universalizar o entendimento das pessoas com aquela situação, história, cenário, por meio de uma situação particular vivida por aqueles personagens que não necessariamente somos nós, mas com quem ainda nos identificamos”, explicou Possert, consultor da SOAP.
O consultor educacional da SOAP também analisou a estrutura narrativa utilizada no filme. Segundo ele, a técnica de storytelling escolhida pelos roteiristas foi a “Jornada do Herói”.
Se você navega pelos conteúdos da SOAP, já deve ter ouvido falar dessa técnica, cujo princípio é acompanhar a transformação de um cidadão comum em um verdadeiro herói.
A metodologia, também conhecida como “monomito”, foi criada por Joseph Campbell e é muito explorada no cinema e na literatura para criar uma conexão do público com o enredo apresentado. Um clássico exemplo de uso bem-sucedido dessa narrativa é “Harry Potter”.
A Jornada do Herói é construída em 12 passos:
→ Conheça em detalhes as 12 etapas para contar uma boa história
Como tudo nesse filme, até mesmo a narrativa é trabalhada de um jeito não convencional. De uma maneira geral, a Jornada do Herói é usada em narrativas para evidenciar dois lados de uma história: o bem contra o mal.
Isso não acontece em “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, já que nessa história o ponto-chave são as relações familiares, especialmente a relação entre mãe e filha.
Além disso, os primeiros passos da Jornada do Herói são os mais evidentes nessa narrativa. Logo no início os espectadores são apresentados ao mundo comum: uma imigrante de meia-idade vivendo nos EUA tenta equilibrar os desafios de comandar um negócio que não vai muito bem com os conflitos da vida pessoal.
Então, a personagem recebe um chamado à aventura, que a faz descobrir um mundo especial, nesse filme representado pela existência de um multiverso, onde a personagem principal (Evelyn Wang) foi identificada como uma potencial heroína para salvar esses universos paralelos de uma figura maligna.
Outro elemento importante da Jornada do Herói identificável nesse filme é a presença da figura do mentor, representado pelo marido de Evelyn de outro universo.
Um dos grandes desafios da atualidade é atrair (e manter) a atenção da audiência. Com o avanço tecnológico, as mudanças nas relações de trabalho e as inúmeras distrações existentes, especialmente no meio digital, fica cada vez mais difícil manter seu público conectado com seu conteúdo.
Diante desse cenário, o storytelling ganha força, justamente por sua capacidade de construir histórias que emocionam e engajam. Diferentes métodos podem ser explorados na hora de contar uma história, como a Jornada do Herói, a Teoria dos 3 atos e o Kishotenketsu.
Se bem utilizadas, essas metodologias podem se tornar fortes aliadas na hora de construir uma narrativa bem elaborada e que ficará marcada na cabeça do seu público-alvo. Isso faz do storytelling uma importante estratégia de criação de conteúdo, capaz de gerar conexão e empatia.
O storytelling também pode ser aplicado em diferentes contextos, inclusive no ambiente corporativo, seja em apresentações, reuniões, treinamentos, entre outras situações.
Porém, ao aplicar o storytelling em produtos do mundo corporativo, é preciso estar atento ao objetivo desse conteúdo (vendas, parcerias ou outros) e ao perfil do público que irá consumir essa informação.
Outro desafio é construir uma narrativa que traga como foco sua persona, ou seja, quem vai consumir o conteúdo. Um erro típico é acreditar que a empresa ou o produto deve ser o centro da história. Ao contrário, narrativas que engajam geram identificação e apresentam soluções que atendam às necessidades de quem está consumindo aquela história.
O cinema é comumente atrelado a uma atividade de lazer. Mas, na prática, assistir a filmes pode ser uma boa forma de estimular a criatividade e conhecer novas possibilidades de trabalhar seu conteúdo.
Como é possível perceber, os roteiristas de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” apostaram alto, mas conseguiram inovar na forma de apresentar uma história complexa e que para muitos pode soar até como confusa à primeira vista.
No entanto, esse filme pode servir de inspiração para aplicar as narrativas de storytelling de diferentes formas, sem deixar o principal objetivo de lado: engajar sua audiência e gerar conexão.
Por exemplo, o storytelling trabalhado no filme ganhador do Oscar 2023 traz os elementos de identificação, uma vez que a trama aborda as relações familiares e coloca a mãe no papel de protagonista.
Automaticamente muitas pessoas já se conectam com o “drama familiar” por relembrarem suas próprias histórias da adolescência ou por estarem vivendo isso atualmente (pela ótica de mãe ou do filho/filha). No entanto, o filme também traz um elemento novo representado pelo multiverso.
Vale destacar, ainda, que “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” faz isso de forma menos complexa do que outras obras do cinema. Basta pegar como exemplo um dos lançamentos da Marvel no ano passado: Dr. Estranho no Multiverso da Loucura.
Esse filme também traz a abordagem do multiverso, mas para entendê-lo completamente é esperado que o espectador tenha acompanhado outras produções do estúdio, incluindo séries disponíveis no streaming da Disney, o Disney+.
Em resumo, o sucesso do filme ganhador do Oscar está, além da atuação, na elaboração de um roteiro bem construído e original, que apresenta diferentes propostas não só na utilização das técnicas de narrativa, como nas formas de explorar assuntos que não são novidade para o público.
Essa originalidade pode inspirar a criação de outros conteúdos, inclusive no ambiente corporativo.
Para isso, é preciso ter um entendimento sobre o público que pretende alcançar, o que significa ir além da superfície.
Ou seja, não basta conhecer o perfil demográfico do seu público, mas ir mais a fundo e investigar seus anseios, medos, objetivos e a partir daí pensar em como pode ajudar a solucionar essas questões por meio da sua narrativa.
A SOAP pode te ajudar nesse processo. No workshop SOAP Storytelling te ensinamos a criar histórias que cativam a emoção do seu público, atraindo sua atenção e despertando desejos.
As técnicas ensinadas são aplicáveis em diferentes contextos corporativos: construção de roteiros e briefings, campanhas publicitárias, lançamentos de produtos, vídeos, apresentações, lives e podcasts.
As aulas incluem diferentes conteúdos que vão desde a história do storytelling e sua importância, passando por diferentes métodos existentes até questões práticas sobre a estruturação de narrativa em diversos contextos de trabalho.
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