Economia do cuidado: saiba o que é e como funciona o trabalho invisível 

23,8 milhões de brasileiros fazem parte da economia do cuidado

Treinamento SOAP
28/06/2024
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A economia do cuidado, que engloba atividades como o cuidado de crianças, idosos, doentes e pessoas com deficiência, além de tarefas domésticas, é um setor essencial, porém muitas vezes negligenciado na economia global.  

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE de 2019, 23,8 milhões de pessoas no Brasil estavam formalmente ocupadas em atividades classificadas como parte da economia do cuidado (por exemplo: enfermeiros, cuidadores e babás), representando 38,6% dos trabalhadores formais nas regiões metropolitanas.  

O trabalho de cuidado, predominantemente realizado por mulheres, desempenha um papel crucial na manutenção da sociedade. No entanto, a maior parte dele é não remunerado e invisível nas estatísticas econômicas oficiais.  

Só em 2019, o IBGE incluiu um suplemento especial na PNADC para levantar informações sobre o cuidado de pessoas e afazeres domésticos. A pesquisa revelou que 23,8% das pessoas de 14 anos ou mais nas metrópoles brasileiras realizavam alguma atividade de cuidado. 

A pandemia de COVID-19 ressaltou ainda mais a importância desse setor, ao mesmo tempo que revelou suas fragilidades. Em 2021, o número de pessoas formalmente ocupadas na economia do cuidado caiu para 21,4 milhões.  

Políticas públicas são fundamentais para valorizar e reconhecer o trabalho de cuidado. Especialistas defendem a necessidade de medidas que garantam melhores condições de trabalho e remuneração adequada para os cuidadores.  

Além de promover uma distribuição mais equitativa das responsabilidades de cuidado entre homens e mulheres para combater a desigualdade de gênero

Afinal, o que é a economia do cuidado? 

A economia do cuidado é um conceito que abrange todas as atividades relacionadas ao cuidado e suporte das pessoas — sejam crianças, idosos, doentes, pessoas com deficiência —, bem como o cuidado com o lar.  

Essas atividades podem ser realizadas tanto no âmbito doméstico e pessoal quanto no profissional, e podem ou não ser remuneradas. 

Isso inclui uma variedade de tarefas essenciais para o bem-estar e a manutenção da vida diária, desde cuidados pessoais diretos, como alimentar, vestir e supervisionar, até a gestão dos lares, como cozinhar, limpar e manter a casa em ordem.  

O trabalho de cuidado pode ser desempenhado por familiares ou por profissionais contratados, como cuidadores, enfermeiros e trabalhadores domésticos. 

Embora muitas vezes invisível e desvalorizado, o trabalho de cuidado é fundamental para o funcionamento da sociedade e da economia, e permite que outras atividades econômicas aconteçam, pois garante que necessidades básicas das pessoas sejam atendidas. Desta forma, essas pessoas podem participar do mercado de trabalho e de outras atividades produtivas.  

O não remunerado, na maioria das vezes realizado por mulheres, contribui significativamente para a economia, mas não é contabilizado no Produto Interno Bruto (PIB), e essa tem sido uma das principais críticas relacionadas ao tema.  

Exemplos de trabalho de cuidado 

Aqui estão alguns exemplos de trabalhos no mercado formal que fazem parte da economia do cuidado: 

  • Enfermeiros e técnicos de enfermagem: prestam cuidados de saúde em hospitais, clínicas, casas de repouso e no domicílio dos pacientes. 
  • Cuidadores de idosos: trabalham em lares de idosos, residências particulares e centros de cuidado diurno, oferecendo assistência a pessoas idosas. 
  • Babás e acompanhantes de crianças: oferecem cuidados a crianças em residências, creches, pré-escolas e centros de cuidado infantil. 
  • Professores e educadores de creches e pré-escolas: responsáveis pelo cuidado e educação de crianças em ambientes escolares e educacionais. 
  • Assistentes sociais: trabalham em diversos contextos para apoiar indivíduos e famílias em situações de vulnerabilidade, incluindo serviços de proteção à criança, apoio a idosos e outros grupos necessitados. 
  • Auxiliares de limpeza e manutenção: garantem a higiene e a manutenção de ambientes de cuidado, como hospitais, clínicas e lares de idosos. 
  • Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais: prestam serviços de reabilitação e terapia para pacientes com necessidades de recuperação física e funcional. 
  • Psicólogos e psiquiatras: proporcionam cuidados de saúde mental e apoio emocional em clínicas, hospitais, escolas e outros contextos. 

Existem ainda outras centenas de exemplos. E, no caso das atividades fora do mercado formal, em geral são aquelas assumidas pelas donas de casa. Elas administram o lar, preparam a comida, limpam, cuidam de todos e, muitas vezes, não são recompensadas adequadamente por isso. 

Políticas públicas e soluções 

Diversos países têm implementado políticas públicas eficazes que oferecem suporte à economia do cuidado. Por exemplo, a Suécia é conhecida por suas políticas de licença parental generosa, permitindo que ambos os pais compartilhem tempo de licença remunerada para cuidar dos filhos.  

Esse sistema promove a igualdade de gênero, pois incentiva a participação dos homens nas responsabilidades de cuidado. Consequentemente, divide a carga que seria, em sua maior parte, assumida por uma mulher. 

Na Alemanha, o programa “Elterngeld” oferece apoio financeiro aos pais que decidem ficar em casa para cuidar de seus filhos nos primeiros anos de vida. Esse subsídio é adaptado à renda familiar e pode durar até 14 meses, incentivando tanto mães quanto pais a se envolverem no cuidado infantil. 

O Japão também tem feito progressos com suas iniciativas de cuidado de idosos. O sistema de seguro de cuidados de longo prazo (“Long-Term Care Insurance System”) proporciona uma ampla gama de serviços aos idosos, desde cuidados domiciliares até suporte em instituições especializadas, aliviando a carga sobre as famílias e melhorando a qualidade de vida dos cuidadores e dos atendidos. 

Mulher indo para o trabalho no transporte público
Países têm implementado políticas de suporte à economia do cuidado

Para integrar a economia do cuidado de forma mais efetiva, é crucial implementar políticas como essas, que reconheçam e valorizem o trabalho dos cuidadores.  

Algumas propostas já em pauta aqui no Brasil incluem: 

Reconhecimento formal do trabalho de cuidado: incluí-lo nas contas nacionais, reconhecendo sua contribuição para o PIB. Isso ajudaria a visibilizar a importância econômica dessas atividades. 

Políticas de licença remunerada: expandir e igualar as políticas de licença parental e de cuidado a familiares, garantindo que trabalhadores tenham direito a licenças remuneradas adequadas. 

Educação e formação: oferecer programas de formação e qualificação para cuidadores profissionais e familiares, melhorando a qualidade do cuidado e valorizando as competências dos cuidadores. 

Suporte financeiro: implementar subsídios e incentivos fiscais para famílias e indivíduos que fornecem cuidados, aliviando o ônus financeiro associado a essas responsabilidades. 

Flexibilidade no trabalho: promover políticas de trabalho flexível que permitam aos trabalhadores equilibrar suas responsabilidades de cuidado com suas carreiras profissionais. 

Mas, para melhorar a economia do cuidado, são necessários investimentos substanciais em várias áreas:  

Infraestrutura: construir e manter creches, centros de cuidados diurnos para idosos e outras instalações de cuidado, garantindo que esses serviços sejam acessíveis a todas as comunidades. 

Tecnologia e inovação: investir em tecnologias que possam apoiar o cuidado, como sistemas de monitoramento remoto para idosos, aplicativos de gestão de cuidados e plataformas de suporte a cuidadores. 

Capacitação: financiar programas de capacitação e certificação para cuidadores, tanto formais quanto informais, melhorando suas habilidades e valorizando suas profissões. 

Sua empresa fala sobre economia do cuidado? 

Reconhecer e valorizar o trabalho de cuidado é um passo essencial para promover a igualdade de gênero e o bem-estar dos funcionários. Afinal, especialmente as mulheres, tradicionalmente encarregadas da maior parte das tarefas do tipo, enfrentam desafios ao conciliar a vida profissional com as demandas domésticas e familiares.  

A falta de flexibilidade no ambiente de trabalho pode levar ao estresse, à exaustão e, em muitos casos, à saída do mercado de trabalho. 

Empresas que adotam políticas de trabalho flexíveis, por exemplo, podem contribuir mais para o bem-estar de seus colaboradores e para a valorização da economia do cuidado.  

Horários flexíveis, possibilidade de trabalho remoto e licença parental são algumas das medidas que podem ser implementadas para ajudar especialmente as mulheres a gerenciarem suas responsabilidades de cuidado.  

Essas políticas também promovem a satisfação e a retenção de talentos, melhoram a produtividade e o bem-estar no local de trabalho. 

Além disso, é importante que as empresas promovam uma cultura de apoio e empatia. Isso inclui a criação de espaços para discutir abertamente questões relacionadas a esse tema e seus impactos, bem como o desenvolvimento de programas de apoio, como subsídios para cuidados infantis.  

A economia do cuidado deve ser um tema central nas discussões corporativas sobre igualdade de gênero e bem-estar dos funcionários.  

Aqui na SOAP, prezamos por essa luta e garantimos que nossas colaboradoras sejam vistas, ouvidas e reconhecidas. Você sabia que 70% dos nossos cargos de liderança são ocupados por mulheres

Quer saber mais sobre o que temos feito para melhorar a experiência delas no mercado? Confira o artigo: “Diretora da SOAP fala sobre liderança feminina e igualdade salarial”



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