E o Oscar vai para…
And the Oscar goes to…Amantes de boas histórias e do cinema com certeza já estão sentindo falta de escutar essa frase. Mas chegou a hora, acontece neste domingo, 10 de março, a cerimônia de premiação do Oscar 2024.
E como aqui na SOAP nunca perdemos a oportunidade de falar sobre boas histórias, comentamos os principais aspectos de storytelling das produções indicadas na categoria de Melhor Filme este ano.
Um spoiler: todas elas têm em comum algo que sempre falamos ser fundamental para qualquer boa narrativa: sentimento.
Esses filmes têm a capacidade de atrair as atenções porque, de alguma forma, conectam o espectador por meio da identificação. E as emoções são a chave para isso.
Então confira a seguir uma análise do storytelling dos indicados a melhor filme no Oscar 2024, quais sentimentos foram explorados nessas produções e suas principais lições.
No filme Barbie, dirigido por Greta Gerwig, a personagem principal embarca no chamado arco de mudança positiva: desafia o status quo pré-estabelecido e as crenças sobre o mundo.
No início, a boneca vive em uma utopia onde todos os problemas não existem e o mundo é (literalmente) cor-de-rosa. À medida que a história se desenrola, essa percepção é questionada, e Barbie enfrenta a realidade de que o mundo é imperfeito e cheio de complexidades.
O storytelling está nesse processo de descoberta que a leva a uma verdade mais profunda: há beleza na imperfeição. O filme utiliza essa narrativa para explorar as complexidades da identidade feminina, desafiando as representações tradicionais (inclusive, da própria Barbie).
A estrutura clássica em três atos é usada para construir o mundo, desenvolver o conflito e resolver a história de uma maneira que mantém o público engajado e fornece uma conclusão satisfatória.
Oppenheimer, de Christopher Nolan, é uma ótima demonstração de storytelling em múltiplas camadas. Não à toa tem recebido elogios em todo o mundo.
O filme nos leva a uma teia de emoções e lutas, enquanto questões históricas compõem o contexto da narrativa. Mas a história mesmo é sobre a vida e as batalhas internas de J. Robert Oppenheimer, o físico por trás da criação da bomba atômica.
Para turbinar a narrativa, o filme usa uma combinação de várias técnicas, mas destacamos aqui o uso de som para amplificar as lutas internas do protagonista.
Não há linearidade aqui. Num caminho oposto ao de Barbie, por exemplo, nesta produção a complexidade temática acontece em camadas. Paralela a isso, temos uma narrativa visual impressionante, característica do estilo de Nolan. Oppenheimer é uma obra para provocar reflexões sobre os dilemas morais e as consequências das inovações científicas.
Poor Things (em português, Pobres Criaturas), dirigida por Yorgos Lanthimos, combina uma estética singular, literalidade narrativa e elementos fantásticos.
O filme narra a jornada de Bella Baxter, uma mulher ressuscitada com o cérebro de seu filho ainda não nascido. Na trama, ela desafia as concepções convencionais de identidade e realidade.
Lanthimos usa o humor e o estranho, e cria um mundo onde o inusitado se torna o padrão. Também vemos essa dualidade na paleta de cores vibrantes contrastando com o cenário sombrio da sociedade vitoriana, e na personalidade única de Bella em meio à opressão.
Poor Things utiliza perspectiva e cor para explorar temas relacionados à condição humana, encantador e, ao mesmo tempo, estranho (não necessariamente de um jeito ruim).
+ Storytelling no Oscar: como a técnica tem sido utilizada pelo cinema?
Maestro, da Netflix, explorou a vida do icônico maestro e compositor Leonard Bernstein. Mas fugindo do que normalmente se faz em biografias, a produção optou por um foco que privilegia os dramas do relacionamento de Bernstein, não suas conquistas profissionais.
O filme é dirigido por Bradley Cooper, que também interpreta Bernstein, e oferece uma visão mais íntima, especialmente de sua relação com Felicia Montealegre, interpretada por Carey Mulligan.
No entanto, a crítica aponta que essa escolha narrativa não conseguiu captar totalmente a essência e importância de Bernstein, o que foi um ponto baixo.
Para alguns críticos, acaba sendo um exemplo de mau uso do desvio das fórmulas típicas dos biopics. Mas isso não significa que a trama não tenha storytelling, manteve a narrativa coesa e envolvente.
O filme Past Lives (em português, Vidas Passadas), escrito e dirigido por Celine Song, vem sendo aclamado por sua abordagem única e emocional. A obra explora a temática do “o que poderia ter sido”, mergulhando nos relacionamentos humanos e na busca incessante pelo ideal romântico, apesar das duras realidades da vida.
Uma coisa que este filme provoca no espectador é manter a esperança de um final feliz ao alcance, embora ressalte sua improbabilidade. A execução visual e emocional ajuda a conduzir a história, prendendo a atenção do espectador.
Um ponto de crítica é o fato de que o roteiro foca majoritariamente na perspectiva do personagem principal sem abranger completamente outros aspectos da história que seriam importantes.
Apesar disso, Past Lives é uma experiência cativante que desafia as convenções narrativas, ressoando principalmente para quem gosta de jornadas visuais e emocionais.
Os Rejeitados é uma comédia dramática que faz você pensar que é mais um típico do gênero natalino tradicional. Porém, a produção surpreende o público e a crítica com um storytelling bem mais profundo e caracterização de personagens muito rica.
Dirigido por Alexander Payne, o longa estrelado por Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa, contraria as expectativas iniciais de ser mais um clichê de Natal.
Mas ele se destaca mesmo por seu olhar sensível sobre personagens complexos e pela forma como aborda temas universais como amor, perda e aceitação. Não à toa, obra já garantiu outros prêmios importantes além do Oscar, como o Globo de Ouro e Critics Choice Awards.
Este é um filme atemporal e com potencial para se tornar um clássico de Natal, por conta da sua capacidade de conectar-se emocionalmente com o público através de uma narrativa envolvente e personagens muito bem desenvolvidos.
+ Como o storytelling é usado no filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”?
Anatomy of a Fall (em português, Anatomia de uma Queda), um thriller dirigido pela francesa Justine Triet, tem a performance de Sandra Hüller como ponto alto. O filme é uma exploração elegante e complexa de um misterioso caso de morte nos Alpes franceses.
Utilizando técnicas visuais sofisticadas, como composição meticulosa, mudança de foco abrupta, e imagens simbólicas potentes, o filme mergulha na profundidade emocional e na tensão de um casamento desgastado, refletido pelo cenário nevado e isolado.
A edição cria uma narrativa não linear que desafia a percepção da verdade, enquanto o uso cuidadoso de cores e design de som complementa a atmosfera sombria e imersiva.
Killers of the Flower Moon (em português, Assassinos da Lua das Flores), dirigido por Martin Scorsese, lançou um olhar sobre os assassinatos que ocorreram na nação Osage na década de 1920, explorando temas de ganância e corrupção.
Baseado no best-seller de David Grann, o filme tem sido muito elogiado por procurar representar esses eventos históricos com precisão factual e empatia, sem desconsiderar a complexidade emocional dos envolvidos.
Apesar de algumas críticas sobre a escolha da perspectiva narrativa, Killers of the Flower Moon consegue se conectar com audiências do mundo todo ao abordar a opressão e injustiças compartilhadas por diversas culturas, e promovendo reflexão sobre racismo.
O diretor britânico Jonathan Glazer escolheu retratar a vida do comandante de Auschwitz e sua família de uma maneira que beira o documental.
Com a decisão de utilizar apenas luz natural e a rejeição de artifícios narrativos convencionais, a produção enfoca na ordinariedade, ou seja, na normalidade (abominável) dos perpetradores do Holocausto, ao invés de apresentá-los como caricaturas do mal.
O filme é daqueles que nos deixa pensando sobre ele (e sobre os dilemas morais que ele apresenta) por horas após assistir.
A narrativa não traz qualquer forma de alívio ou segurança moral para o espectador, mergulhando nas complexidades e banalidades do dia a dia que coexistem com a atrocidade do Holocausto.
Essa abordagem de Glazer, ao focar no presente e na desmistificação dos perpetradores, proporciona uma experiência cinematográfica imersiva, mas também muito perturbadora.
Em resumo, esse filme expõe a forma como histórias extremamente violentas são, muitas vezes, contadas e percebidas. Como se nada estivesse acontecendo.
E qualquer semelhança com o que você sente ao escutar o noticiário hoje em dia, não é coincidência. É uma provocação moral.
Ficção Americana, um filme dirigido e escrito por Cord Jefferson, baseado no romance Erasure de Percival Everett, explora a luta dos escritores negros contra estereótipos raciais na indústria editorial.
Com cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, o longa aborda a jornada de um romancista que, diante da rejeição por não se encaixar nas expectativas estereotipadas da literatura negra, adota um pseudônimo para publicar um romance estereotipado que, ironicamente, torna-se um best-seller.
O storytelling aqui gira em torno da ironia e da crítica social, fazendo uma boa combinação do humor com questões mais complexas (assim como Barbie também faz).
O filme é uma reflexão crítica sobre os desafios enfrentados pelos criadores negros e a superficialidade da indústria em abordar temas raciais.
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