Kishotenketsu: por que os Mangás são exemplos dessa técnica?

Descubra como a estrutura japonesa transforma histórias em mangás e como aplicá-la em apresentações profissionais

Treinamento SOAP
28/01/2025
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Já parou para pensar no que torna os mangás tão irresistíveis para leitores do mundo todo? Além dos traços artísticos únicos e personagens envolventes, há algo mais profundo no jeito como essas histórias são contadas. Uma das respostas está no Kishotenketsu

Essa é uma técnica de storytelling tradicional japonesa que cativa narradores e leitores com sua estrutura única. Diferente das histórias ocidentais, que muitas vezes giram em torno de conflitos e superação de obstáculos, o Kishotenketsu busca criar tensão e surpresas sem depender de embates diretos. 

Essa técnica, amplamente utilizada em mangás, segue uma estrutura de quatro atos – introdução, desenvolvimento, reviravolta e conclusão. É uma abordagem que valoriza o impacto emocional e a descoberta, transportando o público para mundos ricos em detalhes e possibilidades. 

Mas o poder do Kishotenketsu não se limita ao universo dos mangás. Ele pode ser aplicável para qualquer pessoa que deseja contar histórias de forma criativa e envolvente, seja em livros, campanhas de marketing ou apresentações corporativas.  

Neste artigo, exploraremos como essa técnica funciona nos mangás, os benefícios de aplicá-la e como ela pode revolucionar a forma como criamos narrativas em diversos contextos. 

O que é o Kishotenketsu e como se diferencia das narrativas ocidentais? 

O Kishotenketsu é uma estrutura de quatro atos que divide a narrativa em: 

  1. Ki – Introdução: apresentação do cenário, personagens e premissa inicial. 
  1. Shō – Desenvolvimento: expansão da história, aprofundando o contexto ou as relações sem grandes reviravoltas. 
  1. Ten – Reviravolta: um ponto de virada inesperado que altera drasticamente a direção da história. 
  1. Ketsu – Conclusão: encerramento que conecta a reviravolta ao que foi introduzido anteriormente, oferecendo uma resolução harmoniosa. 

Ao contrário de estruturas como a Jornada do Herói ou o clássico arco de três atos, o Kishotenketsu não exige um conflito central. 

Ele pode se desenvolver inteiramente com base na exploração de situações, personagens ou até conceitos abstratos, o que permite criar narrativas mais contemplativas e inesperadas. 

Ou seja, narrativas ocidentais geralmente dependem do conflito como elemento motor da história: heróis enfrentam obstáculos, vilões ou dilemas internos. Já o Kishotenketsu permite que uma história floresça sem antagonismo.  

Um exemplo é a comparação entre filmes de ação ocidentais e os filmes de Hayao Miyazaki, como Meu Amigo Totoro ou A Viagem de Chihiro. Nessas histórias, o desenrolar dos eventos não está enraizado em combates ou confrontos, mas sim em descobertas, mudanças e interações orgânicas entre os personagens e o ambiente. 

Algumas características específicas desse tipo de narrativa são: 

1. Ritmo natural 

A ausência de conflito direto permite uma narrativa mais fluida. Isso é especialmente valioso em histórias que exploram temas cotidianos ou introspectivos. 

2. Surpresas envolventes 

O foco no Ten (reviravolta) pode criar plots que mantêm o leitor engajado, mesmo sem grandes confrontos. Essas surpresas frequentemente adicionam camadas emocionais ou cômicas à história. 

3. Versatilidade 

Embora amplamente associado aos mangás, o Kishotenketsu pode ser aplicado a diversas mídias, como cinema, quadrinhos ocidentais, poesia e design de jogos. E você também pode se beneficiar dessa técnica em suas apresentações profissionais 

Aplicando a técnica japonesa nas suas apresentações 

A fórmula de introdução, desenvolvimento, reviravolta e conclusão permite organizar ideias de forma criativa em diversos contextos. Está difícil de imaginar? Vamos dar alguns exemplos para ajudá-lo! 

Imagine uma apresentação corporativa sobre o lançamento de um produto novo, por exemplo. Veja como o Kishotenketsu pode ser aplicado: 

  1. Introdução (Ki) 
    Comece apresentando o contexto: descreva um problema ou uma necessidade do mercado de maneira objetiva e envolvente. Por exemplo, “atualmente, 70% dos profissionais de saúde relatam dificuldades em acessar dados em tempo real durante emergências médicas.” 
  1. Desenvolvimento (Sho) 
    Expanda o cenário, aprofundando as consequências do problema ou as limitações das soluções existentes. Use dados, histórias de clientes ou exemplos práticos para dar credibilidade. Por exemplo, “a falta de integração entre dispositivos médicos resulta em decisões mais lentas e aumenta o risco para os pacientes.” 
  1. Reviravolta (Ten) 
    Introduza a grande novidade ou insight de forma surpreendente, algo que altera completamente o entendimento do problema apresentado. Esse é o momento em que você prende o público. Por exemplo, “e se existisse uma solução que centralizasse todos os dados médicos em um único dispositivo portátil, acessível em segundos?” 
  1. Conclusão (Ketsu) 
    Finalize com uma mensagem conectando os pontos apresentados e mostrando os benefícios da solução. Por exemplo, “com o novo sistema XYZ, profissionais de saúde podem salvar vidas com decisões mais rápidas e precisas – porque cada segundo conta.” 
Use o Kishotenketsu para construir o storytelling de suas apresentações

Essa estrutura mantém o público engajado do início ao fim, utilizando a surpresa da reviravolta para tornar a mensagem memorável e emocionalmente impactante.

Mas perceba que o seu grande diferencial não está no antagonismo, no problema, mas na forma como a reviravolta é apresentada.  

Dicas para incorporar o Kishotenketsu no seu storytelling 

Se você deseja adotar o Kishotenketsu em suas narrativas, aqui vão algumas dicas: 

  1. Pense em quatro atos: divida sua história em introdução, desenvolvimento, reviravolta e conclusão. Certifique-se de que cada parte flua naturalmente para a próxima. 
  1. Evite conflitos forçados: concentre-se em surpresas e mudanças sutis para manter o interesse do público. 
  1. Teste em narrativas curtas: experimente criar histórias menores, como contos ou posts de redes sociais, usando a estrutura Kishotenketsu. 

Kishotenketsu nos mangás e outras mídias 

Os mangás são os principais exemplos da aplicação do Kishotenketsu. Muitos autores desse gênero utilizam essa estrutura para criar histórias que capturam a atenção dos leitores, equilibrando momentos de simplicidade com reviravoltas inesperadas. A SOAP separou alguns exemplos (inclusive, vale a leitura!): 

1. “Yotsuba&!” 

Este mangá slice-of-life — histórias que retratam momentos do cotidiano de forma realista e intimista — segue a jovem Yotsuba em aventuras do cotidiano.  

Um capítulo típico começa apresentando a premissa (Ki), como Yotsuba visitando um vizinho ou aprendendo algo novo. Em seguida, desenvolve-se o cenário (Shō), explorando as interações e detalhes.  

O ponto de reviravolta (Ten) ocorre quando algo inesperado acontece — como Yotsuba interpretando uma situação de forma cômica. Por fim, o desfecho (Ketsu) amarra o episódio com uma reflexão ou resolução leve. 

2. “Azumanga Daioh” 

Este mangá de comédia utiliza Kishotenketsu para estruturar vinhetas curtas. Por exemplo, uma história pode começar com as personagens discutindo algo trivial (Ki), desenvolver-se com interações engraçadas (Shō), introduzir um momento absurdo ou surpreendente (Ten) e terminar com um comentário espirituoso que encerra a narrativa (Ketsu). 

3. “One Piece” e o uso do Ten 

Embora “One Piece” siga uma narrativa mais complexa e de longo prazo, o autor Eiichiro Oda frequentemente emprega o Ten como um ponto de reviravolta dentro de arcos específicos.  

As revelações inesperadas sobre personagens, como a história de vida de Nico Robin ou a origem de Luffy, são exemplos claros de como o Kishotenketsu pode ser adaptado para narrativas maiores. 

Mas, além dos mangás, o Kishotenketsu pode ser encontrado em: 

  • Jogos de tabuleiro e videogames: jogos como The Legend of Zelda e Animal Crossing incorporam elementos dessa estrutura, com reviravoltas e resoluções que não dependem de confrontos diretos. 
  • Haicais: a poesia japonesa tradicional muitas vezes segue a ideia de introduzir uma imagem ou conceito, expandi-lo e, em seguida, surpreender o leitor com uma mudança de perspectiva. 

Seja capaz de aplicar qualquer narrativa nas suas histórias 

Seja no mundo dos mangás, em apresentações corporativas ou mesmo em campanhas de marketing, essa abordagem permite que suas narrativas se destaquem por sua originalidade e profundidade emocional. 

Quer aprender mais sobre como aplicar técnicas de storytelling, como o Kishotenketsu, de maneira eficaz em diferentes contextos e canais?  

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