Neste Dia das Mães, a SOAP traz uma discussão sobre mercado de trabalho e a maternidade.
Neste Dia das Mães, a SOAP traz uma discussão sobre mercado de trabalho e a maternidade. Quais os desafios atuais? Quais são os avanços e medidas já adotadas para incluir mais mães na empregabilidade?
Para responder a essas e outras perguntas, conversamos com Renata Catto, diretora de negócios da SOAP e especialista em liderança feminina. Mas, primeiro, vamos entender o contexto atual.
De acordo com uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), The Labor Market Consequences of Maternity Leave, os índices de empregabilidade das mulheres brasileiras retraem-se drasticamente quando elas têm filhos. Cerca de 35% delas são demitidas só 12 meses após a licença-maternidade.
Dados do IBGE também apontam que apenas 54,6% das mães entre 25 e 49 anos (com filhos de até três) estavam empregadas. Entre mulheres negras, o número é ainda menor: apenas 49,7%.
Isso acontece porque, como destaca Renata Catto, a maternidade ainda é atrelada à capacidade de entrega e produtividade da mulher.
Perguntas como: “você quer engravidar? Já tem filhos? Se tem, quem cuida deles? Como é a rotina? O pai é presente?” são comuns nas entrevistas de emprego de mulheres acima dos 25 anos.
Muitos recrutadores sequer cogitam uma candidata se descobrem que ela é mãe. No entanto, na opinião da especialista, além de preconceituosa, essa ideia é ingênua e não reflete a realidade.
Um estudo publicado pelo Federal Reserve Bank of St Louis em 2016 demonstrou que mulheres com filhos podem ser mais produtivas que aquelas sem filhos. E quanto mais filhos uma mulher tem, maior sua capacidade de realizar mais entregas.
A experiência acompanhou cerca de 10 mil mães durante 30 anos e comparou dados considerando a quantidade de filhos. As mais produtivas foram aquelas que tinham, pelo menos, duas crianças.
Isso não é nenhum tipo de exagero ou utopia. É claro que a maternidade traz seus desafios e requer esforço ao ser conciliada com o trabalho, mas a ideia de que ter um filho pode fazer uma funcionária entregar menos é apenas preconceituosa.
“A maternidade vem para ensinar, traz amadurecimento para a mulher, gera crescimento e um poder de desenvolvimento no trabalho enorme”, explica Renata Catto.
“Por isso ela deveria ser vista de forma diferente. Se alguém quer ser mãe, se alguém quer esse desafio ou se já é mãe, isso deveria ser motivo para ganhar cinco estrelinhas (com os recrutadores), em vez de perdê-las.”
É claro que não se pode ignorar uma série de outros problemas estruturais relacionados à maternidade e ao mercado de trabalho. Um deles é a questão da licença-maternidade, que é um custo para as empresas.
Inclusive, esse direito ainda costuma ser muito utilizado (erroneamente) como argumento para salários mais baixos.
Mas aqui entra a necessidade de políticas públicas que visem diminuir a discrepância entre homens e mulheres. Renata cita como exemplo a equiparação do prazo de licença para pais e mães, discussão antiga e que já vem sendo adotada por alguns países.
A Espanha, em janeiro de 2021, se tornou o primeiro país a conceder direito à mesma licença para homens e mulheres que têm filhos: 16 semanas intransferíveis e remuneradas para ambos.
Suécia, Coréia do Sul, Japão, Dinamarca, Canadá, Finlândia, Noruega, Eslovênia e Islândia também estão entre os países com as maiores licenças-paternidade. Os prazos vão de 12 a 68 semanas (o maior é da Suécia).
“A maternidade e o tempo fora do mercado não é mais uma questão só da mulher, é uma questão de ter filho ou não.”
Renata Catto, especialista em liderança feminina
No Brasil, a licença paternidade obrigatória é de cinco dias. Esse prazo pode receber um acréscimo de 15 dias, totalizando 20, desde que a empresa seja cadastrada no Programa Empresa Cidadã.
Ou seja, uma discrepância de mais de três meses em relação ao período de licença da mulher. Com isso, elas ficam muito mais tempo fora do mercado, têm mais dificuldades de recolocação e ainda recebem menos, em muitos casos.
Diante de tantos desafios e questões que vão além das escolhas individuais para as mulheres, pode parecer impossível conciliar mercado de trabalho e maternidade. Mas não precisa ser.
O primeiro passo é abandonar a crença de que esses dois lados da vida de uma mulher são, necessariamente, incompatíveis.
Se, por um lado, existem esses problemas culturais e estruturais, por outro existe uma mulher competente e que, após ter um filho, só se fortaleceu e está pronta para contribuir para a sociedade de outras formas.
“(Maternar e ser produtiva) são coisas totalmente complementares, porque o desafio de ser mãe é tão grande, que se uma mulher consegue, então ela consegue ser qualquer coisa”, pontua Renata Catto.
Dito isso, a SOAP lista algumas dicas práticas que podem ajudar mães a lidarem melhor com a jornada dupla de trabalho.
Você não pode abraçar o mundo com as mãos. Defina quais são suas prioridades para o trabalho e para a maternidade e organize suas atividades de acordo com essas prioridades.
É importante lembrar que nem tudo pode ser feito ao mesmo tempo e algumas coisas terão que ser deixadas de lado em determinados momentos. Está tudo bem não dar conta de tudo.
O medo de uma demissão ou redução do salário pode ser paralisante. Mas sabendo seus direitos e usando uma comunicação assertiva, fale com seu empregador sobre sua situação familiar.
Veja se há opções de trabalho flexível, como horários reduzidos, trabalho em casa ou híbrido. Muitas empresas estão mais dispostas a trabalhar com mães que têm uma postura ativa na busca por soluções que funcionem para todos.
Se você sempre foi do tipo “deixo a vida me levar”, sentimos em informar que agora a situação é outra. Com um trabalho que paga suas contas e uma boquinha para alimentar, organização deixa de ser uma escolha e passa a ser fundamental.
Crie uma rotina diária que combine as exigências do trabalho e da maternidade. Isso pode incluir horários definidos para trabalhar e cuidar das crianças, bem como tempo para outras atividades, como exercícios físicos, hobbies ou tempo para relaxar.
Não tenha medo de pedir ajuda a amigos e familiares quando precisar. Ter uma rede de apoio faz toda a diferença ao conciliar mercado de trabalho e maternidade.
Além disso, procure pessoas que passam pelo mesmo que você para obter apoio emocional. Outras mães podem ser uma fonte incrível de suporte psicológico.
Procure grupos de mães que trabalham, seja online ou presencialmente, para obter suporte e conselhos. Isso pode ajudar a aliviar o estresse e a solidão que muitas vezes acompanham a conciliação entre trabalho e maternidade.
É importante aprender a dizer “não” quando necessário, seja em relação a tarefas do trabalho ou atividades pessoais. Definir limites claros ajudará a manter um equilíbrio saudável entre as duas responsabilidades.
Infelizmente, é uma realidade que existem empregadores abusivos. E há relatos de mulheres que se sentem ainda mais pressionadas por patrões depois de serem mães, na tentativa de forçar um pedido de demissão.
Novamente, use o conhecimento de seus direitos e uma boa comunicação para estabelecer limites claros.
A grande verdade que muitas esquecem é: você não será uma boa profissional, nem uma boa mãe se não estiver bem.
Lembre-se de cuidar de si mesma, mesmo quando a agenda estiver lotada. Reserve um tempo para atividades que você goste e precise, como hobbies ou exercícios físicos, e tente se alimentar bem e dormir o suficiente.
A Gestão de Pessoas das empresas desempenha um papel importante na retenção e desenvolvimento de mães no mercado de trabalho. Isso é possível adotando políticas e práticas que apoiem a conciliação entre trabalho e família.
Oferecer opções de trabalho flexível – horários flexíveis, trabalho remoto, meio período ou híbrido – podem ajudar as mães, além de evitar que a empresa perca uma mãe de obra qualificada e experiente.
A equiparação da licença-maternidade e paternidade também é uma medida importante. No Brasil, ainda não há lei sobre isso, mas nada impede que a empresa adote essa política a fim de promover a igualdade de gênero e evitar a evasão de funcionárias que venham a ter filhos.
Programas voltados para assistência à criança, como assistência à creche, também são excelentes políticas. Algumas empresas no Brasil, como a Natura, já oferecem creches gratuitas para os filhos de funcionários dentro de suas próprias instalações.
Empresas que se comprometem com a diversidade e inclusão, incluindo políticas de contratação e promoção justas e equitativas, também ajudam a garantir que as mães e outras mulheres tenham oportunidades iguais de avançar em suas carreiras.
Oferecer suporte emocional, treinamento e desenvolvimento profissional são outros exemplos de promoção de igualdade.
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