Um apresentador, uma voz, uma história.
Um apresentador, uma voz, uma história. Apresentações presenciais apenas com esses elementos são possíveis. Só você. Sem slides, projeções, flipchart, cartazes, lousa e, principalmente, sem qualquer perda de qualidade. A ausência de recursos visuais não faz, automaticamente, apresentações de sucesso ou não. Ainda que dois profissionais façam apresentações sobre o mesmo tema com a diferença que um exibirá slides e outro não, ambas podem ser excelentes.
O ponto é: podem ser excelentes, mas cada uma ao seu modo. É impossível comparar opções tão únicas. Ao orientar um cliente, costumo explicar que ambas as alternativas têm suas possibilidades e limitações próprias e, claro, suas técnicas, algumas próprias e outras comuns.
Neste artigo, confira a análise de uma apresentação de Steve Jobs sem uso do Keynote que fez grande sucesso no Youtube. Acompanhe!
Tomemos um exemplo do mundo corporativo, alguém conhecido por, entre outras proezas, fazer apresentações de sucesso de lançamento de produtos. Não, Steve Jobs não dispensava a projeção de slides. Pelo contrário, o apoio visual, minimalista, sempre foi a marca das suas disputadíssimas aparições.
Contudo, a mais famosa apresentação do fundador e ex-CEO da Apple foi feita ao ar livre, sem um único recurso visual auxiliar, com apenas um apresentador, uma voz, uma história. Em verdade, três.
No discurso, batizado informalmente de Stay Hungry, Stay Foolish, ele conta as histórias: Ligar os pontos e Amor e perda, resumo de vida pessoal e profissional, e Morte, uma leitura particular, humana e bastante prática sobre a função da finitude e o quanto reconhecê-la pode ser proveitoso para fazermos melhores escolhas e, ao longo da vida, desistirmos e persistirmos em certos caminhos.
Jobs acreditava, em 2005, ter superado em definitivo o câncer no pâncreas, diagnosticado no ano anterior, e que o vitimou, em 2011. A experiência, nas palavras dele, foi “o mais perto que estive de encarar a morte”. Talvez, por isso, naquele dia ensolarado no campus da Stanford University, Califórnia, o paraninfo contou aos formandos uma história “dramática” em três partes.
O melhor da performance de Jobs foi, sem dúvida, o conteúdo e a história apresentados. Contudo, vale destacar alguns outros pontos, que mostram como é possível ter um excelente desempenho sem contar com o apoio de imagens:
Disciplinado, ele manteve contato visual constante com a audiência enquanto lia o texto. Esse recurso sugere interação, desejo de conectar-se ao público que você quer cativar.
Outro aspecto digno de destaque esteve na própria regularidade da leitura. Ele não foi monocórdio nem abusou de tons agudos e graves. Manteve-se em uma faixa confortável para sua voz sempre devidamente impostada.
Quando se descarta oscilações drásticas no tom da voz, sem um propósito específico, acredite, ouvir você se torna mais agradável.
Durante todo o discurso, o ex-executivo entremeou, com habilidade, as falas com pausas, algumas curtas, outras mais longas. Um dos típicos equívocos de quem lê em voz alta é lembrar das pausas apenas quando inicia um parágrafo, avista uma vírgula ou ponto.
É possível, e bastante desejável, aplicar a pausa em outros momentos, evitando ler períodos longos sem interrupção, mesmo que estejam sem uma única pontuação. Voltem ao vídeo e observem: Jobs chega a regular o tempo de algumas pausas a partir das risadas do público.
“Há um ano, fui diagnosticado com câncer… Eu tinha um tumor no pâncreas. Nem sabia o que era um pâncreas”. Como vê, é possível usar o humor mesmo em uma cerimônia bastante formal, mesmo para tratar de algo delicado, tudo isso com bom gosto e apropriadamente.
Portanto, em sua apresentação, avalie o contexto e o perfil da audiência. Se julgar adequado, não hesite em usar o humor a seu favor. Lembre-se: não basta cativar racionalmente a audiência, é preciso dizer algo às emoções dela.
Três episódios da vida de Jobs são viradas negativas da história:
Ele recorre a isso não apenas por serem fatos, mas porque trazem excitação, empolgam, despertam o interesse do público para o que virá, sobretudo, dão a oportunidade ao personagem, nesse caso, superar aquela dificuldade. Isso é o natural na vida de pessoas e empresas: altos e baixos. Daí, porque você deve falar sobre pontos positivos e negativos seus.
Em outro trecho, o fundador da Pixar Animation fala sobre mais uma virada, dessa vez positiva. Ele conta como voltou à liderança da companhia. Certamente, essa passagem da carreira foi infinitamente mais complicada e repleta de detalhes do que como apresentada.
No entanto, naquela ocasião, pouco importava ao público as negociações, trâmites jurídicos e financeiros envolvidos. O que importava dizer era que ele havia superado o fato de ser demitido da própria empresa.
E foi o que fez: “Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa.” Simples, sucinto, factual e sem comprometer a história.
A história descrita por Steve Jobs mostra um traço comum à história de tantos outros personagens que despertam interesse, seja no cinema, no teatro, na literatura ou em apresentações corporativas. Ele mudou!
Ao longo do discurso, ele nos conta como uma criança não acolhida pela família biológica, que cresceu com outra, dotada de poucos recursos financeiros, se tornou, contra todas as tendências, um dos maiores e mais ricos empresários do ramo da tecnologia devido à sua engenhosidade e capacidade de superar adversidades.
Essa é a história “dramática” em três partes. Por fim, nos dá a mensagem principal: “Stay Hungry, Stay Foolish.”
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